Recuperação da dependência química: o estágio da contemplação Segunda fase: a contemplação

“Não devemos ter medo dos confrontos. Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas” (Charles Chaplin). Com essa frase introduziremos o tema desta semana: o segundo estágio motivacional, a contemplação. Esse pensamento ilustra características predominantes deste tempo: a ambivalência, a dúvida e o confronto. Nesse estágio, a pessoa pode ter sentimentos contraditórios sobre fazer uma mudança em sua vida, pois embora ela tenha consciência do problema, flutua ainda entre a visão das vantagens e desvantagens do uso da substância tóxica.

Diferente da pré-contemplação, quando utilizo a metáfora do caminho, nesta fase gosto de trabalhar a figura de uma balança para ilustrar desvantagens e “benefícios”, com o objetivo de elucidar os prós e contras do comportamento ao qual se é apresentada a proposta de mudança. Procuro rever com a pessoa os eventos que a prejudicaram e também outra pessoa, sobretudo as consequências difíceis para sua família. Sempre, no entanto, dando espaço para a dúvida, encarando-a como algo natural, inerente a essa etapa do processo. Aqui, é interessante enfatizar o lado bom do comportamento da pessoa para que ela mesma possa manifestar o seu lado “não tão bom”.

“Dia D”
A pergunta comum nesse estágio é: tenho pensado em modificar tal comportamento? Como fazê-lo?

Quando a pessoa chega nesse ponto, podemos fortalecer a sua confiança, o sentido da importância das realidades e, assim, diminuir a ambivalência e a dúvida. A partir deste momento, é possível começarmos, juntos, a planejar o “dia D”, isto é, o dia de parar, o dia da decisão. Essa fase, porém, pode ser longa, e exige de quem acompanha o dependente, paciência, tolerância e acolhimento.

No consultório, os melhores resultados que obtive foram da revivência das experiências de superação que o paciente teve. O estágio de contemplação é como uma dança delicada e feroz ao mesmo tempo, porque vai e vem, flutuando entre dois terrenos sólidos, mas permeados pelo abismo da dúvida em relação ao comportamento presente e aquele que há de vir. Mas com a condução correta, o próximo passo pode levar a uma nova e segura dança. Essa, não mais de confronto e choque, mas de preparação para o belo desafio de mudar!

Por Érika Vilela
Fonte: Canção Nova